domingo, 17 de julho de 2016

O Parca Negra (9º Episódio)

Estava a precisar desesperadamente de algo que me despertasse. Senti as veias e as artérias a bombear com o que lia. Não consegui responder, os dedos paralisados e os olhos estáticos, não me permitiam ir muito mais além do que respirar. sentia o maxilar inferior a tremer ligeiramente e quando finalmente despertei os sentidos, optei por ligar o telemóvel e fazer algo que já não fazia desde a minha tenra adolescência, onde ainda só existia o amor pela escrita, sem prazos de editoras e números complexos de percentagens com tretas adicionais.
Um toque... dois toques... três toques...
Nada.
Segunda tentativa frustrada.
Um ... dois...
- Estou sim? - atendeu Vanessa com a voz ofegante e um tanto ou quanto esganiçada.
- Hum... alo. Estás ocupada?
Um minuto de silêncio, roupas a roçar e uma porta a fechar.
- Não Cassandra, que se passa? não é muito teu ligares a estas horas. Já não é normal ligares sequer e já me ligas-te duas vezes muito pouco espaçadas no tempo.
- Eu precisava de pedir te um pequeno favor... 
E deixei morrer a frase, não sei se tinha coragem, o mais provável é que ela me pedisse justificações e que no final, acabássemos por concluir, que eu sofria de uma espécie rara de esquizofrenia. 
- Sim? Cassie que se passa contigo?
Senti a preocupação palpável na voz dela, já não existia o tom agudo e a respiração meio ofegante, sentia que agora, toda a sua total atenção estava do meu lado.
- Não sei se é pedir muito, mas precisava que passasses cá uma temporada.
- Claro! - respondeu ela de imediato. - Quando me queres ai?
- Pode ser tipo agora? - Mordi o lábio.
Se calhar eu até sabia o que estava ela a pensar, eu sabia que tinha interrompido algo, e sabia também que passado tanto tempo de ignorância, estava a ser egoísta. A minha melhor amiga, tinha o seu ar espontâneo e meio louco, servia para estar em qualquer capa de revista dedicada à Playboy mas no que tocava a amigos ela era a primeira a pôr-se.
- Claro, vou vestir-me, fazer a minha mala e pego no carro directa para aí.
Quase senti as lágrimas de alívio a atraiçoar-me.
- Até já Vanessa, obrigada.
- Obrigada nada, vais ficar a dever-me um Carte D´or de um quilo de cheesecake de morango.
- Ok, Ok! Combinadíssimo! - aceitei sem conter-me no riso.
Desligámos a chamada e voltei a olhar para o ecrã do computador. sem me mexer novamente, no mesmo local patético. Chão da sala, costas encostadas à base do sofá, pc nas pernas e caneca meia cheia de café frio.
Tamborilei na parte da perna que estava livre e meditei sobre o assunto. tinha provas, mas como é que aparecia e desaparecia, e como é que me fazia sonhar com alguém que nunca vi? Como é que me chegavam as mensagens? Algo sobrenatural, talvez? Quase que preferia isso, a um ataque de esquizofrenia. teria de fazer exames, uma TAC? Mas não me recordava de alguma vez ter batido com a cabeça. 
Um coágulo talvez? Cansaço ou pressão a mais, à mistura? 
Uma coisa tinha certeza, a Vanessa ia ajudar-me, ela seria a minha salvação.


Diana Silva
17/07/2016
00:30h