domingo, 19 de janeiro de 2014

Saudade

Sinceridade. Muitos não são fortes o suficiente para a suportar, outros escolhem a surdez seletiva.Ninguém quer ouvir a mentira mas a ironia é que a verdade destrói mais depressa que esta mesma, o que nos deixa num impasse.
Uns dias antes dei comigo a pensar na época que mais me agarra às fantasias e aos sonhos, aos cheiros dos pinheiros e da poeira do sótão a soltar-se em pequenas bolas de cotão ou até mesmo fumo após um sopro acima da caixa.
Podia mentir-me a mim mesma e dizer que as luzes me deixam histérica de alegria como uma criança. Que o que me agarra à data são as mantas sobre as pernas e a caneca de leite com chocolate na mão, mas não é isso pois não? O céu já não é o mesmo, já não me faz recordar uma parede decorada com as luzinhas tão conhecidas, agora recorda-me o véu de uma viúva, como se estivesse permanentemente de luto e os pequenos pontos brilhantes que ainda sobrevivem são as lágrimas.
Para quê tanta nostalgia se só faz com que doa? Talvez seja algo que não foi dito… talvez…
Senti inspiração para escrever no mesmo dia em que me apercebi da aproximação desta mesma data e oque mais sinto não é a saudade dos filmes, do frio, das mantas, dos enfeites,dos doces ou até mesmo o dormir até tarde que para mim já não é possível, nada disso para mim tem o mesmo peso que tinha o que em contrapartida me deixava sentir leve como uma pena, mas se for sincera comigo mesma sei perfeitamente oque me mete com estas saudades.
Não fui ver-te uma última vez e a última coisa de que me recordo é do teu aniversário o derradeiro,mas recuso-me a recordar-te daquela maneira, prefiro recordar-me de quando eras vivaço e de quando roías os ossinhos todos só com um dente, eu com tantos e deixava carne para dois. Prefiro recordar os raspanetes que me davas e todos os anos revejo os postais de natal que me davas.
Foste uma peça importante que fugiu do puzzle, e eu detesto ver algo incompleto, se calhar porque eu mesma sou assim, incompleta. Há tantas coisas que gostaria de partilhar contigo, mas já cá não estás presente de corpo e pergunto-me se andas por cá…
Sei que não sou a única com saudade no peito e uma lágrima no canto do olho ao recordar-te e talvez não queiras que ninguém chore mas a tua neta é uma maria madalena que chora a ler livros e a ver desenhos animados. Ser assim cansa às vezes, mas senão o fosse não era eu e eu sei que sabes.
Resumindo, temos opai, a mãe, as tias, os tios, as primas e os primos, os sobrinhos, os afilhados, as madrinhas e os padrinhos, namorados e namoradas, temos os amigos chegados e os conhecidos, temos a casa, a árvore, os enfeites, os cobertores,os doces e as luzes, mas no meio disto tudo apesar de as luzes serem bonitas e vivas falta a mais importante.
Faltas tu aqui avô,amar-te-emos sempre com a saudade instalada no peito e um sorriso presente à tua paz.
Diana Silva
22:38h ter.
26/11/2013