quinta-feira, 3 de abril de 2014

O Parca Negra (3º Episódio)

Tamborilava incessantemente os dedos no mármore da banheira, dando comigo mesma a olhar para o tecto com o que era provavelmente uma expressão de morta viva abominável.
Ri de mim mesma sob a ideia de tomar banho semi nua com medo de que olhos indesejados e desconhecidos violassem a minha pele, mas a verdade era que me enfiara rapidamente debaixo da espuma e assim permaneci até esta desaparecer, para logo a seguir me virar e vestir o roupão, mesmo com a janela coberta senti-me vigiada, num puro estado de paranóia que se encontrava a caminho do irreversível.
Deixei-me ficar sentada na borda da banheira e completamente sedada à preocupação com os deveres de maior importância. Até deixei de parte a preocupação com a conta da luz.
Porquê ter medo de uma carta proveniente de um admirador secreto?
A minha cabeça era uma montanha russa em constante andamento mas eu sabia que não era a carta que temia mas sim o facto de estar presente no meu território sem ter propriamente perninhas para caminhar.
Era isso, só podia ser. A Vanessa decidira fazer das suas e pregar-me uma grandessíssima partida. Pagar uma boa gorjeta à empregada para cumprir com o guião, pedir a alguém que escrevesse a carta por ela porque assim saberia que eu não reconheceria a letra...
Suspirei, enviei uma boa gargalhada para o céu e abanei a cabeça incrédula com a minha ingenuidade.
-Vais dormir umas boas horas e é agora Cassandra, porque este manuscrito está a dar cabo de ti.
Confessei a mim mesma diante do espelho, enquanto decidia que pijama vestir. Ia falar com Vanessa no dia a seguir para deixar bem claro que eu a tinha descoberto com a boca na botija.
O que poderia eu dizer? Era uma descrente face ao amor platónico.
Abri a cama que de quente nada tinha, e enfiei-me dentro dela enroscando-me toda no edredão, enquanto tentava mascarar o problema do frio, entrei num dilema comigo mesma.
Tinha vinte e cinco anos, eu era uma adulta que só tinha como companhia o portátil e uma amiga que via de semana a semana. Na minha adolescência tive um par de namoricos que não me correram assim tão bem e à anos que não sentia o toque, o cheiro ou escutava a voz de um homem ao meu lado para me aconchegar.
Ela tinha razão, iria tornar-me numa velha rabugenta, com gatinhos de cores e tamanhos diferentes.
Encolhi os ombros, suspirei pesadamente, e em vez de me martirizar com parvoíces, decidi deixar-me levar pelo sono. O único consolo que tive foi ao pensar no adiantamento do meu trabalho, isso sem dúvida alguma valia a pena.
Foquei-me nos pés e mãos já quentes e entrei no estado de sonolência.
Juro que antes de adormecer me senti aninhada nos braços de alguém com um cheiro semelhante ao do envelope...

Diana Silva
02/04/2014

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