domingo, 12 de agosto de 2012

"No Encalço da Morte" - Excerto


Prefácio
Ficariam espantados se conhecessem o verdadeiro mundo como eu o conheço. Um mágico sobrenatural aterrador e ao mesmo tempo de um fascínio horrendo que ninguém pode imaginar sequer.
Tudo começou quando na minha terra Natal se gerou uma espécie de apocalipse, mas eu sabia por instinto que ainda não tinha acabado. As pessoas foram desaparecendo cada vez mais frequentemente, fugiram-nos pelos dedos os entes mais queridos e ainda mal conhecíamos o mundo como deve ser. Em pequena quando tinha por volta dos meus doze anos já tinha uma ligeira noção do que devia estar a acontecer, contei aos meus pais mas todas as pessoas gozaram comigo alegando que eu tinha uma imaginação muito fértil, e uns meses depois veio-se a comprovar que eu estava correcta. Estávamos na presença de animais como nunca antes tínhamos visto, e estes quase extinguiram a nossa espécie. Batalharam sobre as ruas sem medo e eu que por todas as histórias que conhecia nunca pensei que existissem mesmo.
Não são humanos, mas também não são deuses. São belos, isso sem dúvida mas da minha parte só eram belos para os olhos dos outros que os veneravam sem pensarem. Junto a mim tinha uns poucos, que também salvaguardavam a sua sanidade, enquanto permanecíamos presos a uma vida de escravidão. Mantinham-nos presos e eu fora apanhada no início dos tempos durante uma emboscada. Já se tinham passado cinco anos, e durante esse tempo esquecera-me por completo de como era, sentir o sol, a erva nos pés descalços, o cheiro do orvalho de manhã. Não guardava qualquer espécie de memória do exterior nem desse tipo de felicidade, apenas queria sair dali juntamente com o meu grupo e enquanto não o fazia tentava incumbir juízo na cabeça dos outros.
Perguntam-se porque nos mantinham presos? Por uma razão muito simples. Esta espécie não estava disposta a perder o seu alimento e por isso guardavam-nos e faziam com que procriássemos como se fossemos míseros porcos e cada vez que me recordava disso o estômago contorcia-se e os vómitos vinham-me á boca. Ali naquele buraco, não tínhamos condições mas alimentavam-nos frequentemente, para que nos mantivéssemos fortes e saudáveis e eu gostava de os contradizer. Odiava-os mais que tudo, provocavam-me pesadelos de noite, quase fiquei daltónica pois era pouca a luz e já não sabia o que era estar na presença de cores berrantes e belas, sobretudo da minha favorita, mas quando a colocava nestes termos questionava-me como poderia gostar de algo que não me recordava? E aquilo de que me recordava bem era de quando eles mataram os meus pais e me deixaram com a minha irmã mais nova nos braços. Cuidei dela o tempo todo, nunca a larguei e quem fosse para a tocar sofreria. Fiz questão que nunca lhe faltasse nada, no entanto sempre soube que o mais importante lhe faltaria, conhecimento sobre o mundo exterior e eu não lhe poderia dizer nada com dezassete anos de vida. Tinha plena consciência que ela era cinco anos mais nova que eu e a idade dos porquês tinha passado á pouco tempo, transmiti-lhe uma verdade pura e dura mas ela não me deixou de ouvir. Deixei de parte o facto em que as mulheres morriam aos quarenta anos e os homens que diferenciavam entre os cinquenta e os cinquenta cinco, pois dependia da maneira da procriação, começavam aos vinte e depois nunca mais paravam, e eu enraivecida assistia a tudo mas sempre protegendo o olhar da minha irmã contra esse tipo de perversidade.
Com esta espécie não se brinca e quando tentei fugir pela primeira vez tentaram fazer com que me arrependesse mas nunca lhes dei essa satisfação. Oh, infligiram-me dor… sim, fizeram-me guinchar, mas nunca mais que isso, não o permiti. Tinha um corte na parte direita na cara e a dor era a única coisa que me fazia recordar de que ainda vivia, não era masoquista, não a adorava, nem pedia ou fazia para que recebesse mais, simplesmente saboreava o sabor da frustração que lhes dava.
Para além da companhia da minha irmã, tinha a companhia do meu primo e este mais velho tinha vinte e dois anos, já tinha concebido filhos com inúmeras mulheres e da sua parte tinha muitos filhos e filhas mas o que mais lhe doeu foi o facto de estar com todas e estas desconhecidas, contara-me que quase todas choraram quando ele lhes roubou a virgindade e ele também chorava… depois, mantendo-se na sombra para que ninguém o visse. Era um mundo ainda mais cruel do que aquele que nós conhecíamos, eles criavam “violadores” e não era por escolha nossa e tecnicamente, já não vivíamos porque aquilo, não era nenhuma vida, não, recusava-me a pensar que assim o fosse. Aquilo era uma guerra sem precedentes entre humanos e monstros aos quais nós chamávamos de vampiros. Mas estes nunca conseguiram ser os deuses que os livros caracterizavam para mim, deixaram de ser iguais. E por muito que realmente me custasse nunca pensei em mim… pensei sempre nos outros. Esta é a história de como os vampiros se apoderaram de toda a humanidade.
Olá, chamo-me Destiny Summer e esta á a história da minha morte…  

"No Encalço da Morte" - Diana Silva

2 comentários:

  1. Uuuuu… alguém andou a trabalhar :)
    Quanto à escrita: dura e realista :) GOSTO! ;)
    Dica: "minha terra Natal" não acrescenta muito e acho que ficava mais limpo se tirasses… decisão ẽ tua.
    PARABENS!!! :)

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  2. UHH Obrigada :D Sim, eu já tenho estado a ler isso e tenho que alterar algumas coisas. Obrigada pela Dica, vou aceitá-la e colocá-la em prática :D Bjinhos.

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