terça-feira, 25 de julho de 2017

O Parca Negra (16º Episódio)

Fiquei especada no meio do corredor, ofegante do momento.
Se ela não entrasse naquele momento em casa o que faria eu? O que estava eu a fazer? Porra!
Vanessa voltou ao Hall e com uma expressão mais compreensiva abordou-me com uma pancadinha no ombro.
- Então? Não precisas de ficar assim Cass, é algo normal. Eu é que entrei no momento errado.
Não... tu entraste no momento certo, mesmo muito a tempo. Senti que a minha cara começou a ruborescer mas os olhos continuavam a fitá-la. Senti a necessidade de desabafar mas fiquei-me pelo silêncio. Vanessa franziu o sobrolho e observou-me melhor. Soltou um assobio.
- Ena, essa camisa já teve melhores dias não? Selvagens. - e o sorriso enorme salvou.
Olhei para o meu peito e o rasgão ia até um pouco acima do umbigo deixando a espreitar uma das copas do meu sutiã que de especial não tinha nada. juntei as duas partes do tecido rasgado e tapei-me. Virei costas e dirigi-me para o segundo andar na esperança de mudar de roupa.
- Já venho. - Disse ao cimo das escadas.
- É bom que metas esse rabo cá em baixo, tenho muita curiosidade em saber que é o tipo! - Brincou ela.
Nem eu sei quem é! Pensei para com os meus botões. Mudei para uma T-shirt preta completamente amarrotada, estava exactamente como eu na minha cabeça, sem jeito nenhum. Desci as escadas e fui para a cozinha, ficara com fome de repente.
Nessie estava na sala sentada mas assim que me viu levantou-se.
- O que queres jantar? - perguntei já a tirar o arroz, o atum e os ovos.
- O que tu fizeres, pelos vistos.
Ergui uma sobrancelha mas peguei no tacho que enchi de água quente e enquanto isso andei às voltas a tentar arranjar uma maneira de me esgueirar à conversa.
- Escuta Cass, sem querer perdi as tuas segundas chaves, desculpa.
Oh, eu sabia onde elas estavam...
- Não há problema, ando a pensar em mudar de fechadura também.
Estava?
- Estás? Porquê?
- Não notas que está mais difícil de abrir? Está a ficar perra.
- Já que falas nisso... sim se calhar é melhor antes que partas lá uma chave.
Pus o arroz na água a ferver e comecei a tirar o óleo do atum. Tive apenas dois minutos de silêncio, dois...
- Então... quem era aquele borracho?
Suspirei, iria ser uma longa noite....
Depois do jantar fugi para o quarto e levei o portátil comigo, iria fazer algo que já não fazia muito usualmente. Escrever deitada.
Deixara de o fazer porque acabava por adormecer em cima do teclado e o resultado final era um livro inteiro, escrito em hebraico, mas hoje sentia-me desperta depois das horas todas de sono e daquele breve momento de adrenalina no sistema nervoso o que eu não tinha certamente era sono.
Instalei-me e comecei a exercitar os dedos. Se eu pudesse ter músculos tonificados e fortes seria mesmo nos dedinhos todos, porque o meu rabo tinha mais semelhança com uma placa do que outra coisa qualquer, aliás acho que a cadeira tinha lá uma impressão em tamanho real dele.
"Ela tentou fugir mas não conseguiu, a perseguição não deixou de existir, e a mão dele estava cada vez mais perto do braço dela..."
E o "plim" fez-se ouvir mas não foi do meu portátil. Foi do meu telemóvel. Provavelmente alguma mensagem da operadora a avisar que iam retirar dinheiro do meu saldo. Olhei para as horas e estranhei, eram vinte e três e cinquenta. Ergui-me e desbloqueei o telemóvel, numero desconhecido.
"- Espero que amanhã apareças, ficarei à tua espera, se bem que não me importava de voltar a tua casa."
Era ele, até o meu contacto ele tinha agora? Como? Pus-me a escrever rápido.
"- Como arranjas-te as chaves da minha casa?"
Pousei o telemóvel na cama mas ele não me fez perder tempo.
"- Amanhã de manhã, no Luigi´s... pode ser que te diga como."
Atirei o aparelho para o outro lado da cama e agarrei-me ao portátil, totalmente frustrada e surpresas das surpresas não consegui escrever mais nada, cinco minutos depois outra mensagem.
"- Se Maomé não vai à montanha..."
Tive de responder.
"- Cassandra vai à montanha sim, mas vai para reaver as chaves e para se ver livre da montanha de problemas."
Dez segundos.
"- ;) "
Não tenho bem a certeza de quanto tempo fiquei a olhar para o smilley no meu ecrã. Aquilo era impensável. O homem misterioso/perigoso/excitante acabara de me enviar um smilley. O quê?
Abanei a cabeça, meti o telemóvel na mesa de cabeceira, fechei o portátil e fiquei a olhar para o tecto. Não tinha sono, ficara sem atenção e inspiração e não sabia o que fazer. Saltei da cama e fui ter ao quarto da Vanessa. Bati à porta e uma voz ensonada respondeu.
- Entra Cass.
Abri um pouco a porta.
- Posso?
Ela esfregou a cara e sentou-se para fazer o gesto de "vem e senta-te aqui". Fechei a porta como se tivéssemos mais companhia em casa e atirei-me como uma criança para o lado da Nessie.
- Desculpa acordar-te mas estou com um bloqueio e pior é que não tenho sono.
- Na boa Cass, amanhã estou de folga, de qualquer maneira não temos andado com muito tempo para fazer coisas de gajas.
- Coisas de gajas? - perguntei desconfiada.
- Bem... sim coisas de gajas, sabes... arranjar o cabelo, maquilhar e isso tudo. - Ela cala-se e de repente abre os olhos - Já sei oh meu Deus! Vamos sair!
- O quê? Ainda agora estavas a dormir e eu decididamente que não sou uma rapariga de saídas.
Ela pôs a sua melhor expressão de aborrecimento.
- Oh va lá! Bebemos à borla e tudo!
- Eu tenho dinheiro sabes...
Ela fez aquele sorriso e eu sabia que não lhe iria escapar pelos dedos... oh não...
Fiquei sem saber como raio é que ela realmente me convenceu a fazer aquilo, enfiei-me num macacão preto sem costas e decote fundo, saltos de cunha e cabelo apanhado.
À quanto tempo não me via maquilhada mesmo?
- O Homem se te visse assim não se ficava só pelo rasgão.
Corei.
- Nessie... podes esquecer?
Ela abanou a cabeça.
- Anda é quase uma da manhã e a esta hora é quando começa a aquecer.
Pus-me no lugar do pendura e Vanessa pôs o carro a trabalhar, em dez minutos meteu-nos na rua dos bares e as músicas misturavam-se umas com as outras. Homens e mulheres já tocados e outros completamente torcidos. Os saudáveis estavam a entrar para os bares, a enfiar-se por onde houvesse espaço. As sextas à noite eram terríveis. Porquê que eu tinha aceite sair mesmo?
Ah... porque devia isso a Nessie na minha cabeça.
- Agora sim a diversão vai começar.
Estacionou e saiu, ainda fiquei apreensiva mas ela apareceu do meu lado.
- Gostava de fechar o carro, vens? Não é divertido sem companhia.
Aí tive de rir.
- Sim porque tu madame Vanessa passas dez minutos sem ter um homem à tua perna não é?
Deu-me um encosto no braço quando saí e pusemos-nos a caminho da noite a rir... sabia bem...

25/07/2017
19:04
Ter

Diana Silva











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