sexta-feira, 28 de julho de 2017

O Parca Negra (17º Episódio)

Duas caipirinhas a seguir eu e Vanessa tentávamos esgueirar-nos para outro bar pois aquele já estava a abarrotar e o cheiro a suor e a hormonas pulsantes pairava no ar... o que não era nada bom. Havia um homem podre de bêbado a rondar por ali com os joelhos coçados e a camisa completamente desfraldada, o sujeito em si estava completamente decadente e tinha parado a nossa frente com um bafo a whisky tremendo.
- S sinhoras stao de said? - Perguntou.
Nem eu nem ela respondemos, limitam-nos a contorná-lo e a sair do bar.
- Mal edcadasss. 
Vanessa olhou para mim e ambas nos rimos entredentes com as figuras que ele fazia, depois de passar-mos por dois bares lá encontramos um calmo, o ambiente era mais escuro como que iluminado por lamparinas, com aspecto dos anos sessenta recordava-me épocas de Jazz e Blues, tocava "Fever" da Peggy Lee. Quem diria?
Sentámos-nos num sofá longe da porta mas perto do bar, estrategicamente pensado pela minha companheira. Ela tinha de dar nas vistas, podia ter a carteira cheia, mas porque não poupar? Era uma mulher matreira, fazia dos homens aquilo que ela entendia e eu sempre na dúvida se isso não serviria para aumentar o seu ego. Fizemos o nosso pedido e enquanto aguardava-mos, a musica mudou, ouviu-se a voz de Etta James a encher o espaço e no exacto momento os olhos de Vanessa focaram-se num homem que parecia ter os seus trinta anos a musica a aumentar o ritmo para o "i wanna make love with you.." aquela voz sabia arrepiar-me. O homem parece que sentiu o olhar dela e quando o encontrou parou e admirou, estava acompanhado com mais três homens e uma mulher. Olhei para ela a fazer o seu joguinho sensual, o empregado do bar chegou com as nossas bebidas e ela bebericou, enquanto se endireitava no sofá de napa vermelha, realçou o decote com o movimento e afastou o cabelo todo para o mesmo lado, quando pousou o copo lambeu o lábio de baixo. O homem semicerrou os olhos e pigarreou, disse alguma coisa aos colegas e por incrível que parecesse ou não ele dirigiu-se com o seu copo à nossa mesa. 
Olhei para ela e ela olhou-me de lado com um sorriso triunfante ao qual retribui com um revirar de olhos. Limitei-me a beber. 
- Boa noite senhoras, estão a precisar de companhia?
Suspirou.
- Bom, de facto estava a tornar-se aborrecido aqui. - sorriu.
Obrigadinha pela parte que me toca - pensei.
- Posso convida-la para uma bebida?
- Já estou servida mas se quiser acompanhar-me na próxima?
O sorriso dele era enorme
- Com todo o gosto, posso?
Vanessa fez sinal para a cadeira em frente da sua na qual o homem se sentou com todo o gosto ela ofereceu-lhe a mão e apresentou-se.
- Vanessa, a minha amiga é a Cassandra, por acaso nenhum dos seus amigos quer fazer-nos companhia?
Pisquei os olhos na direcção dela e fiquei surpreendida. Eu não queria companhia.
- Chamo-mo Carlos e por acaso acredito que um deles queira sim, tanta beleza junta tem que se partilhar não é?
Ela continuou com o sorriso e eu mantive a expressão. Sem gritar e com elegância Carlos chamou do seu lugar.
- Filipe. Estás ocupado?
Um ruivo levantou a cabeça e olhou na direcção do amigo. Os meus lábios disseram um não silencioso e nervoso a Vanessa a qual encolheu os ombros e me deu uma cotovelada. Não é que o homem fosse feio, até tinha a sua graça mas eu não era rapariga de me meter com qualquer um, nem tinha capacidade de namoriscar ou seduzir como ela. Que raios.
- Boa noite, senhoras. - Cumprimentou. - Carlos? - Perguntou com a sobrancelha erguida.
- Vanessa e Cassandra - apresentou - queres juntar-te a nós?
Eram todos tão educados que me fazia espécie. Apostava uma mão em como era só fachada. Soou "Autum Leaves" na voz de Nat King Cole. 
- Com todo o gosto - e sentou-se. - Ora o que fazem aqui duas senhoras tão belas, sem companhia?
- Perguntava-me o mesmo Filipe, parece que tivemos sorte. 
Quase tive pena dele, porque fiz de tudo para não corresponder mantendo-me distante e dando sorrisos frios, não queria qualquer intimidade com um homem qualquer. Tirava o chapéu ao facto de Vanessa saber escolher cavalheiros, mas deixaria-os para ela. Após mais duas ou três bebidas sentia as faces a escaldar e optei por parar por aí. Olhava para o relógio de cinco em cinco minutos e a última vez que vira o relógio eram duas e trinta da manhã. Ouvi Ray Charles, Frank Sinatra e Nina Simone, apreciei a boa música e encaixei a paciência devida para ouvir os namoricos da minha melhor amiga e... Carlos. Filipe bem tentou mas para mim a graxa servia somente para os sapatos.
Pedi licença e fui à casa-de-banho, só para me ver livre daquele ambiente que aspirava a testosterona. Depois escapuli-me pelo lado em que ninguém veria para a porta do bar. Assim que senti o fresco na cara senti-me agradecida, inspirei e deixei-me estar, sentei-me num banco posto ao lado do bar, chamava-se como mesmo? Ah... Chamava-se Blues... original, mas mesmo assim gostei imenso dele. 
Devo ter ficado cerca de dez minutos no sossego, observei o outro lado da rua e estava lá novamente o bêbado a ser corrido do bar para fora por um segurança que fechou de imediato as portas atrás de si. Bamboleante e de cabeça no chão atravessou o caminho aos S´s, e quando chegou a entrada do bar de onde eu estava parou e olhou para mim, semicerrou os olhos e eu levantei-me rapidamente, não tinha ido sair para aturar borrachões. 
- Eh tu? Ê mlembra dti. 
Caminhei mais depressa para entrar no bar e ele barrou-me a passagem. Senti o coração a perder a compostura. Ele para além de cheirar a whisky agora cheirava a vómito também. Tentei abrir caminho para o outro lado e ele seguiu-me, mais uma vez e ele repetiu.
- Olhe não o conheço de lado algum, deixe-me passar para o pé dos meus amigos por favor.
- Migos? - Suloçou - Que migos é que dexam ma sinhora tão nita sozinha?
Ele tentou aproximar-se com as mãos e eu afastei-me, semicerrou os olhos zangado e aí rápido agarrou-me pelos braços.
- Largue-me! - Gritei.
Onde estavam as pessoas quando eram precisas? Oh sim... bêbadas como este tipo.
- Na na... agora vais ter de me dar um jinho..
Ele esticou-se e virei a cara para baixo.
- Que nojo, larga-me seu porco!
Ele rugiu e puxou-me ainda mais para si, os engulhos a apoderarem-se de mim, porquê que saíra? Porquê? A mão dele apertou-me o queixo e puxou-mo para cima, espetou-me um beijo na boca e o vómito ameaçou sair de rajada, peguei na minha força e dei uma valente joelhada nas jóias de família, iria ter a certeza que o filho da mãe não teria filhos. Ele ganiu e largou-me por momentos mas o sacana de mão nas virilhas agarrou-me o pulso e mandou-me ao chão com uma força brutal.
- Sua Vaca, vaiss pgar-mass. 
Tonta com o impacto e a bebida só senti que o bêbado me soltara depois de ver o vulto, as mãos levantaram-me e um peito susteve-me. 
- Estás bem?
O zunido estalara-me nos ouvidos e quando levantei a cabeça vi o bêbado a ser levado inconsciente por um par de seguranças e a Vanessa a correr na minha direcção com Carlos e Filipe. Senti o calor antes de olhar para ele, sabia quem ele era o instinto dizia-me quem ele era. Os meus olhos encontraram os dele e a sua expressão séria e preocupada desanuviou-se, a minha boca ficou seca. 
- Estás bem?
Que voz, era daquelas que nunca iria esquecer, ali estava ele novamente presente...

28/07/2017
21:42
Sex.

Diana Silva
 


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