domingo, 27 de agosto de 2017

Crónicas de Uma Mente Insana - Episódio 4 - Ansiedade

Quando aquela vontade absurda e súbita de mudares de lugar retorna.
Quando sabes que ver, hoje em dia, não é prioridade.
Sentes o coração a desacelerar, os sentidos a apurarem-se, o instinto de sobrevivência a vir ao de cima. Porquê?
Apercebes-te de que o corpo começa a dar de si, essa tal motivação que vai e volta e que outras vezes vai mas não volta... e põe-te a pensar no motivo de isso acontecer...
Será o suficiente? O rumo que queres dar à tua vida, o sentires-te perdida, a chama que não acalma e tudo porque não encontras o caminho que estavas a traçar.
Quem mo escondeu? Quem to escondeu?
Fui eu! Foste Tu!
Não vale a pena apontarmos dedos quando quem deu os passos fomos nós, aquela dor aguda que aparece no meio da nuca, aquele arrepio gelado que te percorre espinha a cima, um fardo que a nossa mente carrega e que nos desespera, pois o novelo é tão grande que não encontras o nó!
Quanto mais o procuras, mais te enfureces, mais enlouquesses, mais te entristeces e por fim quase que desistes...
No entanto algo agarra-te, algo nos faz mover e seguir, eu entendo-te, mas só eu!
A insegurança, o manteres-te calada, o deixares pessoas partir porque já não queres lutas desnecessárias, intrigas, criticas destrutivas ou prisões. No fim sabes quem não te deixa assim, afasta-te das vozes e não cedas ao pânico, porque se cedes, já sabes o que aguarda por ti.
A noite é nossa amiga sabias? Quando deixas finalmente de sentir bem o centro do teu peito e quando a visão te turva e perde a cor, quando esta te abraça e te deixa cair de cabeça no chão, é aí que te apercebes... está na hora.
Deixa-me descansar um pouco, fechar os olhos por um par de horas... somente...
Deixa-me ir ANSIEDADE .

Diana Silva - 28/08/2017 04:16 Seg.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O Parca Negra (25º Episódio)

Ao sairmos do bar, de um ambiente quente para um ambiente fresco senti a pele dos braços a arrepiar, contive-me. Caminhá-mos silenciosamente até ao Blues, e discretamente entrámos, ficámos num cantinho pouco iluminado com bastante privacidade, uma mesa redonda e pequena que não nos dava muita margem de manobra, não nos afastava quase nada mesmo, as cadeiras simples em madeira com o almofadado bordou, agora que expandia melhor a minha visão, o bar era todo muito bem decorado, transportando-nos realmente para outra época.
Não estava muito cheio, mas da última vez também não tinha estado, só podia supor que este fosse o movimento regular dele, a empregada foi rápida a alcançar-nos, eu pedi um hi-fi e ele um Martini.
- Amante de sumo de laranja? - perguntou com o seu melhor tom de brincadeira.
- Na verdade é da vodka, e tu? Amante de coisas velhas?
- Clássicos na verdade - sorriu abertamente.
Não pude deixar de reparar na expressão dele, a maneira como os seus olhos se semicerravam enquanto sorriam, as maçãs do rosto que ficavam encantadoras e redondas. Dei um abanão mental a mim mesma.
- Chama-lhe o que quiseres - disse - que idade tens? Cinquenta?
- Trinta na verdade e bom gosto.
Ri-me com a brincadeira.
- Não sei se um Martini se encaixa nesse parâmetro.
Não sei o que me aconteceu mas dar-lhe conversa estava a divertir-me, espicaça-lo era estimulante, para os meus sentidos.
- Não me referia à bebida - respondeu-me com um olhar sugestivo.
Bloqueei, senti-me de repente a corar e o que me salvou foi a empregada com as bebidas, dei o primeiro gole e deixei escorrer.
- O que te trouxe aqui? De certeza que não foi para me dares boleia.
Inspirei, tentei convencer-me que o rubor se devia ao álcool.
- Pensei que esperar pelo pequeno almoço levasse demasiado tempo.
Ele ajeitou-se na cadeira e abriu a parca, colocou o seu melhor ar de desafio, estava pronto para qualquer investida minha.
- Podes começar...
- Não - interrompi - começa tu por favor, de onde conheces o meu irmão, ele não tinha melhores amigos, ele ter-me-ia dito se tivesse...
Ele pigarreou e bebeu um gole de Martini sem qualquer careta.
- Custa a crer Cass, mas a verdade é que eu olhava para ele como um irmão mais velho, nós cuidava-mos um do outro como tal, e os dois anos no exército, não pareceram ser só dois anos mas sim uma década... - ele inspirou, eu estava atenta e disposta a ir até ao fim - Ele era brilhante, sobrevivi ao primeiro ano devido ao apoio dele, e ele falou-me bastante de ti, via-se que eras um orgulho para ele. Quanto mais o escutava mais embrenhado ficava. Não era suposto ele ter ido naquela missão, disse-lhe que era uma missão suicida mas ele era difícil de se mover. Depois de receber a noticia e de ir a tua casa...
Surgiu um clarão na minha mente, um soldado, olhos azuis, gelados e lacrimejantes, o meu coração acelerou.
- Eras tu? O homem eras tu? - estava mesmo surpresas.
Ele assentiu silenciosamente.
- Mas como é que eu não me lembro de ti, tu sabes tudo sobre mim... disseste que lhe tinhas feito uma promessa!
A minha intenção não era de todo enervar-me, não queria fazê-lo sentir-se culpado de algo, mas senti que ele me devia explicações, justificações de tudo, de todas as suas atitudes, a carta, a perseguição, o facto de me fazer sentir como me faz sentir, não fazia qualquer sentido, de todo.
- As opções foram tuas Cassandra, foste tu que quiseste esquecer, seguir em frente, no entanto não creio que isso te esteja a fazer bem. Prometi ao teu irmão que cuidaria de ti, que te protegeria de qualquer coisa se algo lhe acontecesse a ele e tenho cumprido com ela.
- Não faz sentido, do que terias de me proteger? A minha vida é super monótona, não é que algum dos vilões dos meus livros ganhem vida e venham atrás de mim.
Ele tentou conter o sorriso.
- Não tem piada Samuel.
Vi-o estremecer à minha frente, os braços dele ficaram arrepiados e o olhar intensificou-se.
- Já à muito tempo que não te ouvia a dizeres o meu nome. - confessou.
Bebi um trago enorme da minha bebida, precisava de clarear as ideias.
- Preciso de ir lá fora, queres ir comigo?
- O que quiseres.
Terminá-mos as bebidas e tratámos da conta, saímos do bar sem demora, não consegui sentir o ar fresco desta vez, parecia que tudo me sufocava, a voz do Samuel, as suas palavras, o ambiente, tudo me punha um nó horrível na garganta e um monte de fumo negro no cérebro.
- Anda. - ele pegou-me na mão e guiou-me.
O silêncio que surgiu a seguir foi perfeito, o suficiente para pôr as ideias no lugar e para ganhar tino no assunto, tinha de ganhar forças. Confiei totalmente nele, ele fazia com que me sentisse segura, sabia que ele não deixaria que nada nem ninguém me tocasse e isso era reconfortante. Passámos o bar gótico e atravessámos uma ponte que estava oculta pelas árvores, a madeira rangeu, protestando com o nosso peso, atravessámo-la rápido, não demorou muito tempo até começar a ouvir um som calmante, limpo. Seria um riacho, ou um lago com uma fonte talvez. Samuel afastou uns arbustos e lá estava a origem. Uma pequena cascata, dois degraus a deixares a água escorrer livremente, a fonte iluminada com tons verdes e os vultos dos peixes a nadar criando pequenas ondas. Existiam dois bancos, um de cada lado e ele orientou-me para o que estava à nossa frente.
- Ninguém vem para aqui, temos a nossa privacidade, podemos falar mais à vontade.
Assenti com a cabeça, sem palavras.
- Algo mais que queiras saber?
- Quero saber tudo.
- Pensei que não querias o teu passado de volta. - disse ele.
Encolhi os ombros.
- As minhas memórias estão a dar cabo de mim, cada vez mais me recordo daquilo que não quero, não posso fugir dele.
- Do que te lembras?
Inspirei bem fundo e apertei bem as mãos uma na outra.
- Para além de uma mãe falsa, das agressões e de um irmão morto... nada mais.
A respiração dele falhou, a expressão dele mudou por completo.
- Sim, também me recordo de ti no hospital. Foram dos piores momentos da minha vida. - ele agarrou-me nas mãos, passou os dedos em cima das finas e quase imperceptíveis marcas de dentes - ainda tens marcas, juro que se ela ainda fosse viva...
A sua expressão era ameaçadora, do nada senti vontade de o confortar a ele.
- Mas já não está, ela provou do seu próprio veneno e depois cortou os pulsos, já não faz mais nada neste mundo.
- Merecia ter sofrido. - continuou.
- E sofreu... acredita que sofreu Samuel.
Ele suspirou, mas não largou uma das minhas mãos e por mim tudo bem, sabia bem ter a mão dele, quente e grande sobre a minha.
- Não te lembras do médico a que foste?
- Médico? - perguntei confusa.
- Sim, o que te hipnotizou.
Senti todo o canto do meu corpo a paralisar e a arrepiar-se, claro que me lembrava. Foi o médico que me ajudou com os traumas, que me ajudou a refazer a vida, sem as sessões de hipnose ainda estaria a viver de psicólogos e calmantes. Fiquei inquieta com a memória que surgiu.
"A sala era toda ela em tons de creme, um tom neutro, existia uma secretária uma cadeira e dois cadeirões dispostos um à frente do outro. O médico era estrangeiro, chamava-se doutor Duran e estava na casa dos quarenta anos, tinha um ar tão frio que metia medo. Entrei naquela sala somente três vezes e fora o suficiente para nunca me esquecer da postura daquele homem. Quando iniciava as sessões fazia sempre o mesmo discurso, ele trabalhava com base no som, pedia para que fechasse os olhos e que escutasse com atenção o som do relógio da sala, até finalmente ser só silêncio."
- Cass? Estás pálida, sentes-te bem?
Dei por mim a abrir os olhos, oh meu Deus.
- Desculpa... hum, sim estou óptima, são... as memórias - bolas esqueci-me de respirar.
- Queres continuar?
- Diz-me por favor o que foste para mim! - tinha de saber.
Ele esfregou as mãos e o seu sorriso foi triste.
- Nós já fomos mais do que somos agora Cass.


26/08/2017
01:44
Sáb.

Diana Silva



terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Parca Negra (24º Episódio)

Após um serão calmo, optei por usufruir do merecido descanso. Dei um jeito ao cabelo para não acordar com ele em modo filme de terror. Sim, porque se o deixasse solto iria suar e se suasse o meu cabelo daria uma de Samara a sair do poço.
Atirei-me literalmente para cima da cama e olhei para o telemóvel. Sem mensagens.
Estaria eu mesmo à espera de uma mensagem dele? Voltei a pousá-lo no seu lugar e virei-lhe costas, descrever o que estava a sentir tornava-se algo complicado. Era descabido dizer que queria mesmo falar com ele? Que ele me mandasse uma mensagem?
Voltei a virar-me para o maldito e fui para o campo de escrita... que raio vou escrever eu? Olá, como estás? Ou então... bom como não me chateaste muito hoje, senti a tua falta?
- Ah... estúpida, estúpida, estúpida!
Caí para cima das minhas almofadas, tinha de deixar de me portar como uma adolescente tímida, é só a porcaria de uma mensagem... certo. Tanto tempo e optei por mandar um simples "Oi".
Óptimo agora podia enforcar-me, provavelmente nem me responderia, mas ao menos tentei. Já se tinham passado dez minutos quando os meus olhos ameaçaram fechar-se e o tinir se fez ouvir, nunca fui tão rápida a pegar o telemóvel.
-"Cass? Está tudo bem?"
Se o meu ritmo cardíaco aumentou? O meu coração voou, trotou, temeu que nem varas verdes.
-"Está tudo bem... " - bom que tinha eu na verdade a dizer? Mandei a mensagem assim mesmo e a resposta foi rápida.
-"Precisas de algo?"
Preciso? Olhei para o relógio, era meia-noite.
-"Não, tudo ok... não estás a trabalhar hoje?"
Desta vez demorou mais um pouco, ai ai.... será que tinha sido impulsiva... estive sempre a dar-lhe com os pés e agora a vida pessoal dele já me interessava, bonito. Outro toque.
-"Estou, saiu daqui a uma hora."
Uau, ele respondera mesmo. Ele estava quase a sair, prestes a terminar o turno dele, não enviei nova mensagem, fiquei a olhar para o tecto, agarrada à almofada, o sono já não estava presente, fiquei cerca de uns cinco minutos a rebolar pelos lençóis como uma verdadeira perdida, a pensar no que eu ia fazer. Levantei-me e sentei-me na cama, olhei novamente para as horas e tomei a minha decisão. Despi o pijama com rapidez suficiente e enfiei o macacão preto, o mesmo da última vez, calcei os meus melhores saltos dentro de opções muito limitadas e sai do quarto sem me esquecer de uma malinha. Bati à porta de Vanessa e pedi-lhe o carro emprestado, estava tão embrenhada no sono que me disse onde estavam os documentos e as chaves sem sequer me questionar, perfeito. Agarrei em tudo o que precisava e abri saí de casa, fechei a porta sem fazer barulho algum e entrei no carro. Baixei o espelho retrovisor e olhei bem para mim, abri a malinha e tirei de lá o lápis e o eyeliner, passei ambos e por cima esbati ao de leve uma sombra preta, se ia a um bar gótico era bom que me aperaltasse. Tirei a gargantilha rendada que vira em cima da mesa de cabeceira da Vanessa e também a coloquei, no fim pus um batom vermelho sangue nos lábios, após uma análise cuidada decidi que soltar o cabelo era uma boa opção.
Uma parte estava pronta, agora... à quanto tempo não conduzia eu um carro?
-É como andar de bicicleta Cassandra... vamos.
Endireitei o espelho e pus as chaves na ignição, destranquei o volante, a mudança já estava na primeira,  carreguei na embraiagem e pus o carro em ponto morto, liguei o carro, mão no travão e a embraiagem para baixo, por fim comecei a soltar lentamente tanto um como o outro, o carro começou a andar. Fácil... ok, segunda fase concluída, agora era só  lembrar-me do caminho. Fiz um teste à minha memória por inteiro, pronto parecia uma velhinha a guiar, mas já era mesmo muito tempo sem estar atrás de um volante e afinal chegar à zona dos bares nem foi a tarefa mais complicada, vinte minutos e cheguei. Certifiquei-me que tinha fechado bem o carro e andei determinada até a um dos últimos bares na rua. Tentei não esbarrar com ninguém, ou seja, com nenhum dos bêbados, sempre à luz, visível e depois de andar praticamente a rua toda cheguei à entrada do bar. Não havia filas, nem confusões fora dele, entrei sem qualquer problema. O Segurança à entrada não era o Samuel, disse boa noite quando olhei para ele e deixou-me passar.
Pronto aqueles góticos não brincavam em serviço. Desde lentes de contacto, aos dentes postiços, às unhas bicudas, os cabelos espampanantes com vermelhos garridos ou pretos simples outros com madeixas verdes ou roxas... debaixo das luzes era quase impossível identificar a cor correta. A música era profunda, enchia os ossos de gelo e o cérebro adormecia, muito poucos estavam na pista e os que estavam limitavam-se a fazer movimentos fluidos como que a tentar encantar os parceiros. Calafrios percorreram-me a espinha, senti os olhares em cima de mim como se identificassem o ser estranho que eu era, fui até ao balcão e a mulher do bar não se demorou.
- Nova aqui? - perguntou.
Ela era pálida, muito mesmo, os lábios pretos e as lentes de contacto de cores diferentes eram a sua marca, um olho de cada cor.
- Pode-se dizer que sim.
Ela riu-se, ao menos não tinha caninos falsos.
- Cheiras a virgem, o que vais querer?
Senti a cara a ferver.
- A vossa especialidade talvez.
- Sai um demónio vermelho então.
Sorri e comecei à procura de Samuel, percorri com os olhos toda a extensão do bar que era possível e senti-me a ficar desiludida. O copo pousou ao meu lado.
- Estás à procura de alguém.
Não era uma pergunta, se calhar ela até podia ajudar-me.
- Um dos seguranças, o Samuel, ele está cá hoje, não está?
- Está sim, hoje está na área VIP na cave. - olhou para o relógio - deve estar mesmo a sair... ah e cuidado, prova primeiro, tem tendência a apanhar muita gente desprevenida. - apontou para a bebida.
Aceitei o conselho de bom grado e provei um pouco, era picante e a garganta queimava mas era suportável. Senti os lábios a ferver, cheirava a canela mas era forte.
- Uau!
- Avisei. - piscou-me o olho e foi atender outro cliente.
Bebi devagar, saboreei e fui observando o comportamento de todas as pessoas à minha volta, o ambiente nem era mau de todo, um pouco arrepiante sim, mas mesmo assim controlado. No meio das minhas atrofias nem dei pelo tempo passar, ali ninguém metia conversa com ninguém e foi um ponto que me deixou aliviada, mantinham-se nos seus grupos, tal qual alcateias distintas.
O meu copo já ia a meio quando das escadas vejo a subir o Samuel, fiquei automaticamente nervosa e esqueci-me da garganta febril, dos lábios picantes e fiquei a vê-lo. Ele estava com a parca preta dele e o chapéu dos AC DC, já estava sem a farda, deixei o copo em cima do balcão e fui ter com ele.
Só deu por mim quando quase me atropelou.
- Cassandra? - perguntou surpreendido.
- Olá - disse - achei que não queria esperar por amanhã, o que achas?
Samuel presenteou-me com o seu sorriso aberto.
- Podemos ir aqui ao bar vizinho se quiseres.
Senti a minha cara a espelhar o sorriso dele.
- Perfeito.

23/08/2017
01:32
Qua.

Diana Silva

sábado, 19 de agosto de 2017

O Parca Negra (23º Episódio)

Assim que cheguei a casa, pus mãos ao trabalho. Não podia perder mais tempo ao estar parada. Verdade fosse dita os últimos momentos deram-me mais garra para trabalhar, e outra maneira de ver as situações.
" Era tão fácil estar ao seu lado, tão fácil como respirar, como se ele sustentasse os meus pulmões com cada beijo, como se erguesse o meu corpo com cada toque, por mais agulhas que sentisse debaixo dos pés, por mais impulso que sentisse bem no fundo do meu peito, eu sabia... eu sabia quem ele era na verdade..."
Quando dei por mim, já o crepúsculo aparecia pela minha janela, as cores laranjas e quentes cobriam-me as mãos e o meu local de trabalho, o meu nariz detectou o cheiro de algo guisado e a barriga roncou. Estaria mesmo com fome? Fiquei admirada comigo mesma. Espreguicei-me na cadeira e levantei-me, fiz com que todas as articulações e ossos estalassem e senti a leve tontura a desvanecer-se após um bom alongamento. Não devia estar tantas horas na mesma posição, mas quando me concentrava no trabalho era difícil mover-me. Fui para a cozinha, onde Vanessa mais composta agitava a colher de pau, no tacho, vi-a com atenção a remover a colher e a provar o molho, estava tão concentrada que não me viu a chegar, sentei-me a observá-la, acrescentou mais umas ervas e o aroma alterou-se quase de imediato, era agradável ter a casa envolvida nas especiarias, algo que já não sentia à muito tempo, muito tempo mesmo.
Pousei os cotovelos na bancada e tossi para chamar-lhe a atenção, o sobressalto dela foi mínimo, mas o suficiente para me aperceber que ela tinha estado totalmente alheia ao que se passava à sua volta.
- É raro estares assim tão embrenhada, é por causa da tua casa?
Ela suspirou e tapou o guisado.
- Sim e não.
Tentei manter-me relaxada para não dar a entender que estava preocupada, ela detestava quando alguém mostrava preocupação por ela. Talvez porque ela nunca o precisara, mas não podia negar que isso mexia comigo.
- Também não estás a ser muito objectiva. - continuei.
Ela sentou-se à minha frente e imitou a minha posição, talvez fosse mais reflexo do que intenção, encolheu os ombros.
- Cass, às vezes quando não estamos destinados a ter sorte, tudo nos corre mal.
Endireitei-me automaticamente.
- Como assim? Tu és linda, tens um bom emprego, homens à tua perna que se farta...  - nomeei e ao mesmo tempo vi a expressão dela fechar-se.
- Isso é tudo muito superficial, queria mesmo era alguém com quem partilhar a vida e que não se limitasse a estar debaixo dos meus lençóis.
Bati com o indicador no queixo.
- Talvez se deixares de procurar e de agires como ages te apareça alguém sério. Sejamos sinceras Nessie... não te portas da maneira mais correta com eles.
Ela brincou com os dedos e mordiscou o lábio inferior, o sobrolho franzido, expressão de alguém que estava completamente concentrada no que eu lhe tinha dito, só esperei que ela entendesse o meu comentário como algo construtivo. Não insisti mais, deixei-a pensar, limitei-me a fazer companhia no meio do silêncio, às vezes ajuda estarmos lá sem dizer nada, muitas vezes mais vale estarmos realmente mudos do que estarmos sempre a pisar o mesmo assunto, ela que reflectisse sossegada. Uns minutos depois vi o peito dela a encher-se e a levantar-se da cadeira para apagar o fogão. Abriu os armários para tirar os pratos e os copos, fui ajudá-la trazendo tudo o que faltava para a mesa. Quando acabei de nos servir dei a primeira garfada, estava delicioso, tudo no ponto, a carne quase que se dissolvia na boca. Por vezes esquecia-me o quão boa cozinheira a Nessie era.
- Isto está óptimo Nessie - elogiei.
Ela sorriu, um sorriso tímido ao qual eu ainda não me habituara.
- Obrigada amor. Já não punha os meus dotes de culinária à prova, à muito tempo.
- hum, hum... - estava de boca cheia não podia dizer muito mais que isso.
Mais umas quantas garfadas e Vanessa parou de comer, olhou para mim, o que por ato continuo me fez parar também.
- Sabes Cass, tens razão... usei os homens para preencher um espaço vazio e não deveria agir assim, só faz com que me vejam como um alvo fácil, se calhar está na hora de crescer e assumir umas rédeas... afinal não vou para nova e quero ter a minha família... quero ter os meus filhos.
Abri o meu rosto num sorriso enorme e peguei na mão dela, transmitindo-lhe apoio e força.
- Tu sempre foste uma rapariga com juízo, aproveitas-te o que tinhas de aproveitar, afinal não é crime divertires-te como bem entenderes.
 Ela agarrou-me nas mãos.
- Tens razão e está na altura de lutar por uma outra fase. Agora... vamos acabar de comer senão fica tudo frio e sem graça.
Ri-me, mas acatei o conselho dela, já à muito tempo que não comia uma boa refeição, feita com carinho e dedicação... sabia a isso na verdade.
Recordei-me da primeira vez que conhecera Vanessa.
"Estava ainda no hospital em recuperação, quando a meteram no meu quarto mesmo a meu lado, ela tinha uma perna engessada e vários arranhões na cara e nos braços envoltos em betadine. Tinha o olhar colado ao tecto, estava em estado de choque ainda, o meu pai tinha ido comer alguma coisa depois de se certificar que eu ficava mesmo bem, ele não me abandonava à horas e tive de usar todas as minhas forças para o convencer a sair um pouco, que ali agora já ninguém me poderia fazer mal. Tossi com a garganta irritada e fiz uma careta, ainda estava muito dorida em certas zonas do corpo. A rapariga piscou os olhos e olhou para mim, a expressão ainda meio estranha observou-me.
- Olá - cumprimentei.
Ela fez um trejeito com a boca, os lábios dela eram cheios e rosados, tinha uma ferida no canto em cicatriz.
- Olá...  - observou-me o máximo que pôde, a mão dela apontou para a minha cara e depois pousou na sua. - tu... também te trataram mal...
Acenei com a cabeça devagar, esta ainda me doía.
- Sim... mas já não fazem mais... sou a Cassandra. - apresentei-me com cuidado.
Ela não largou o olhar dela do meu.
- A mim também não... nunca mais... sou a Vanessa e gosto de ti.
Senti-me a corar e sorri, tentei mostrar-me o mais simpática possível, não estava habituada a dar-me com pessoal.
- Acho que também gosto de ti... - respondi. "
Senti Vanessa a abraçar-me pelas costas enquanto eu lavava a loiça.
- O que seria de mim sem ti. - confessou.
Tive de me rir.
- Provavelmente alguém com mais diversão e salsa à mistura.

19/08/2017
19:38
Sáb.

Diana Silva


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O Parca Negra (22º Episódio)

"19, Fevereiro de 2007
Assim que chegava da escola, punha-me trancada no quarto a estudar, naquele dia lembro-me que estava a estudar história, ia ter um exame na quinta-feira e precisava de melhorar a nota. O último setenta por cento que mostrei à minha mãe não foi o suficiente, nunca era na verdade, para ela.
Já à semanas que não sabia de nada do meu mano, ele tinha sido destacado à um mês e meio para a Chechênia, cada dia que passava punha-me mais nervosa, fiquei impaciente e a única maneira de me distrair era estudar e escrever, tinha de ter a mente ocupada. 
De vez em quando recebíamos cartas, enviávamos resposta logo de seguida, mas, demorava sempre imenso tempo a ser retornada.
Já estava na terceira página de apontamentos quando ouvi um grito absurdo no primeiro andar, tirei os fones dos ouvidos e pus-me à escuta. Era a mamã, gritava algo que eu não consegui entender. Larguei tudo o que tinha em cima da mesa e pus-me num salto na sala de estar. 
O meu coração quase parou quando vi o meu pai a abraçar a minha mãe, quando vi as lágrimas a correr livremente e abundantemente pelas faces dos dois. Um oficial estava de pé com a expressão de pesar carregada, lágrimas que ameaçavam sair dos olhos mas que se mantinham, um olhar azul tão profundo, tão gelado. 
O mundo caiu-me aos pés quando o meu pai se virou para me encarar, segredou algo para a mamã que se endireitou e percorreu o curto espaço até mim, agarrou-me pelos braços com carinho, com cuidado, era o que diferenciava o papá da mamã, ele nunca me tocava num fio de cabelo se não fosse para me apaziguar, para me dar amor.
- Cass, o teu irmão... - a voz embargada, o nó da sua garganta passou para a minha.
Não foi preciso dizer mais nada, fiquei em estado de choque, não chorei, mas abracei o meu pai com toda a força que me restava, não deixei de olhar para o oficial sobre o ombro dele, e ele retribuía-me o olhar. Não tão cedo, não tão novo, ele não merecia, ele não merecia ir assim. 
- Como? - dei por mim a perguntar, com a voz rouca, a garganta seca de emoção.
Ele manteve-se firme, mas a voz profunda emanava a fúria controlada.
- A caminho do local, o transporte dele foi intersectado, eles sabiam onde e quem era. Abateram o condutor e todos os seguranças, deixaram o Miguel para o fim, fizeram dele um refém, sabiam que ele era preciso... no fim...
- Não - pedi - não diga mais.
Ouvi o pranto da minha mãe, o meu pai a estremecer e fiz-lhe sinal para ir para o lado dela novamente mas ele recusou-se a largar-me e levou-me com ele para o sofá, onde nos abraçou às duas.
Mais tarde, muito mais tarde, estava deitada na minha cama, sem sono, sem qualquer vontade de fechar os olhos. Tinha uma foto minha e do meu irmão ao peito, estava abraçada à moldura e estava assim à horas.
Era meia noite e quarenta e cinco quando ouvi a porta do meu quarto a abrir, uma figura esguia, despenteada com algo comprido na mão entrou pelo meu quarto.
- Mãe? - perguntei rouca.
- Tu... - silvou - porquê que não foste tu em vez do meu menino? Porquê que és tu que ainda estás viva?
Sentei-me na cama, de boca aberta, senti os meus olhos a abrirem-se cada vez mais.
- O quê? O que estás a dizer mãe?
- Cala-te! Cala-te! Odeio-te, não me chames mãe, tu não és minha filha, nunca foste e nunca serás!
Avançou sobre mim e senti o primeiro toque do cinto na cara, onde ela nunca me tocava, não podia ter marcas visíveis, tinha de dar para tapar, tentei proteger-me, o pânico a crescer a cada cinturada que levava, o ferro a bater na carne, a morder, a abrir. Acertou-me na cabeça e fiquei tonta, o equilíbrio deixou de existir e quando saltei da cama para tentar fugir, caí de joelhos.
- Pensas que vais onde? - Gritou
Senti o choque sobre as costas, ela agarrou-me pelos cabelos e puxou-me, arrastou-me pelo chão assim, senti os fios a desprenderem-se do meu coro cabeludo e agarrei-lhe nas mãos para tentar desprender-me, ela acertou-me em cheio nos nós dos dedos, automaticamente apercebi-me do líquido quente a escorrer nas mãos, tentei novamente e ela mordeu-me, mordeu-me mesmo. Gritei!
Gritei como nunca tinha gritado, pedi socorro como nunca tinha pedido, e um minuto depois alguém a levantava, alguém me salvou. As lágrimas correram livres pela minha cara, onde me ardiam horrivelmente.
- Perdes-te o juízo? Estás louca? Vou chamar a policia, nunca mais farás algo assim, nunca mais!
Pai? Era a voz do meu pai, alterada mas era a dele, mesmo a gritar, era o meu pai. Chorei ainda mais quando o abraço dele me despoletou dores horríveis pelo corpo todo, costas, braços, mãos, cabeça.
- Oh meu amor, minha Cassandra, vou tratar de ti, nunca mais te largo, nunca mais!
Uma hora depois estava no hospital a apresentar uma queixa contra a minha agressora, tinham tirado provas suficientes para a deterem, inclusive ferimentos mais velhos...."
- Terra chama Cassandra... olá?
Pisquei os olhos e voltei-me para Vanessa, sorri.
- Desculpa, estavas a dizer?
Ela revirou os olhos.
- Estava a perguntar-te se querias sobremesa.
O empregado observava-me, o Samuel observava-me e ela também. Pigarreei e concentrei-me no presente.
- Só um café por favor.
Ele apontou e foi-se embora com um sorriso tímido.
- Hoje andas estranha Cass.
- Cansada, é só isso Nessie. - expliquei.
- Vê lá se acabas esse livro, precisas de férias! - disse ela a fungar.
Acenei com a cabeça e limpei a boca, depois de beber o resto da minha coca-cola.
- Escreves? - Perguntou Samuel.
- Trabalho a tempo inteiro - respondi sem grande emoção.
- Posso perguntar o quê?
Lerda como estava ergui a sobrancelha em sinal interrogativo.
- Que tipo de livros escreves... - incitou-me a rir-se.
- Bom... terias de ler um deles para descobrir. - desafiei.
- Sou capaz de o fazer.
Os cafés e a sobremesa chegaram, passou o tempo restante a fazer-me perguntas e quase mergulhámos em tópicos filosóficos sobre autores. Ele gostava de ler e eu gostei disso. Ele sabia manter uma conversa interessante e também gostei disso... estava a começar a gostar demasiado da presença dele. Depois de pagar-mos a conta voltámos a casa da minha amiga, que passou o tempo todo nas suas insinuações, eu aproximei-me um pouco mais de Samuel instintivamente e depois de ela acabar tudo o que tinha a fazer, a porta de casa dela foi selada. Pediram para que depois do trabalho ela se apresentasse na esquadra da sua zona. Aí despedimos-nos de Samuel, eu voltava para casa com a Vanessa.
- Ainda não acabámos com a nossa conversa - relembrou-me ele à parte, enquanto Vanessa entrava no carro.
Algo me disse que eu também queria continuar com a conversa então desta vez fui eu quem determinou o onde e quando.
- Tens razão, amanhã às nove no local do "costume" - salientei a fazer aspas com os dedos.
Ele achou graça.
- Concordo, até amanhã Cass.
- Até amanhã Samuel.
Entrei no carro e vi Vanessa sorridente, olhei para ela de sobrolho franzido sem perceber o motivo da felicidade dela.
- Acabas-te de saber que a tua casa foi vandalizada e estás a sorrir?
- Bom, não é todos os dias que eu vejo a minha melhor amiga descontrair numa conversa com um rapaz e a marcar encontros.
- Oh vá lá, não é um encontro.
Ela riu-se.
- Claro que não, é uma reunião de negócios.


17/08/2017
16:50
Qui.

Diana Silva






quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O Parca Negra (21º Episódio)

Era preciso descaramento.
- És um homem cheio de confiança - atrevi-me a dar-lhe umas palmadinhas no braço. - se um dia eu me aproximar tanto de ti como da minha melhor amiga, é porque estou pronta para o manicómio.
Os lábios dele formaram um pequeno sorriso, e eu não entendia porquê que aquele sorriso se tornava tão característico nele, ficava sempre com a minha atenção presa naquele diminuto gesto. Pisquei os olhos e virei-lhe costas, voltando para o lado da minha amiga, que nada dizia, só observava com um olhar apreensivo a entrada da sua casa, completamente arruinada.
Encostei o meu ombro ao dela e ela amparou-se em mim, envolvi-lhe a cintura num abraço. Ficámos assim sem nada dizer, ela a pensar no problema dela e a minha mente a vaguear pelas memórias do meu irmão... meu querido irmão.
Estive tão pouco tempo com ele, ele quis ser militar, um herói, defender a sua Pátria, num século que poucos entendiam o que era isso mesmo. Por isso mesmo eu nunca conhecera grandes amigos da sua parte, aquele homem era-me totalmente desconhecido. Quando eu tinha catorze anos o meu irmão tinha os seus vinte anos. Ele tinha conseguido entrar finalmente para a academia militar, todos ficaram felizes, mas eu, eu agarrei o meu mano mais velho e não consegui sorrir, o medo apoderou-se de mim, medo de o perder, uma dor inesperada corrompeu o meu sistema, quase que podia ouvir a voz dele na minha cabeça.
- "Hei, Cass, vai correr tudo bem, o mano volta todos os fins-de-semana"
Mas, isso não aconteceu pois não? Ele estudou e deu tudo de si, ele aparecia quase de dois em dois meses, o primeiro ano dele na academia fora assim, esteve presente no meu décimo quinto aniversário, mas ele, celebrou lá os seus vinte e um, bem como os vinte e dois.
No segundo ano foi muito pior.
Só o vi cerca de três vezes, a última tinha sido no Natal, na véspera, antes de o chamarem para uma missão urgente para a Chechênia, onde se dava a sua segunda guerra, ele estava escalado para travar rebeldes Chechenos nos seus ataques terroristas contra a Rússia.
Foram precisos esses dois anos para mudar toda a minha vida, para dar uma volta de cento e oitenta graus.
Quando eram exigidas ajudas eles não poderia negar-se e o meu irmão apesar de ter somente dois anos de experiência, era necessário. Ele era visto como um estratega.
No meio da memória olhei para onde Samuel estava, será que ele tinha estado lá com ele? Será que viu como ele morreu?
Ele estava distraído com algo, olhava para o céu, ou talvez para a copa das árvores como se estivesse a ver o horizonte... como se sentisse o meu olhar sobre ele, mirou-me e eu... bem, não desviei como devia ter feito, fiquei simplesmente a portar-me como uma mirone. Ele entrou no jogo, não apartou o olhar de mim e fiquei eu desta vez distraída.
Devia ter a idade que o meu irmão teria agora se respirasse. Aparentava ter os seus trinta anos ou estar quase lá. A barba estava feita, naquele dia não estava com a parca, não tinha o boné que escondia o seu cabelo revolto, em vez disso a camisa azul petróleo e as calças de ganga pretas faziam dele um homem bastante charmoso até.
Inspirei fundo e voltei-me para a Vanessa.
- Já comeste alguma coisa?
Ela acordou do seu estado encoberto e piscou-me os olhos, negou com a cabeça.
- Podemos ir almoçar no café aqui atrás, costumam servir bem. - disse ela com um sorriso torto.
Oh... minha Nessie.
- Boa ideia. - e recordei-me - o Samuel...
- Ele que venha, não vais deixar o teu jeitoso sozinho não é?
- Hei! - franzi o sobrolho - Ele não é o meu jeitoso - sussurrei para que mais ninguém ouvisse.
Ela riu-se e mordeu o lábio - Bom, já que o dizes...
Eu conhecia aquele olhar, senti-me a ficar mais branca que cal.
- Oh não Nessie... este não!
Parei à frente dela, estaria mesmo eu a marcá-lo como limite? O que me estava a passar pela cabeça? Vanessa abriu o seu sorriso, mostrou literalmente os dentes todos, estalou a língua e apontou-me com um dedo na cara.
- Não me consegues mentir Cass, este homem está a afectar-te e à grande!
Mordisquei o interior do meu lábio e cruzei os braços.
- Eu só quero obter umas informações, não é nada de especial.
Ela abanou a cabeça e fez um ar reprovador... estaria a gozar comigo?
- Não me tentes atirar areia para os olhos Cassandra, não és daquela que saca informação no marmelanço. Conheço-te demasiado bem.
Revirei os olhos e deitei todo o ar que tinha nos pulmões para fora.
- Vamos almoçar ou não? Acho que os homens ainda se vão demorar por estas bandas.
Ela assentiu e dirigiu-se para os policias com um sorriso controlado no rosto, dedicou-lhes três ou quatro palavrinhas e voltou para o meu lado.
- Podemos ir, vai lá falar com o teu borracho.
- Nessie... - avisei.
- Qual, Nessie qual quê, vamos! Estou esfomeada, não tomei o pequeno-almoço.
Assim fomos, o Samuel aceitou o convite e pusemos-nos a andar dali para fora, pelo menos um tempo de sossego visual e auditivo de toda aquela balbúrdia.
Quando chegamos ao café, sentámos-nos e fizemos o pedido, Vanessa começou com as perguntas.
Eu tinha mesmo pensado em sossego? Estúpidez a minha.
- Então, tu és o herói aqui da minha amiga... pela farda que tinhas presumo que trabalhes por ali.
Ele anui-o com a cabeça.
- Sim, no bar ao lado.
- Desculpa, não sei o teu nome. - insinuou-se dando-me uma cotovelada.
- Samuel e tu sei que és a Vanessa.
Ela sorriu.
- Bastante bem informado.
- Ouvi falar bastante de ti. - comentou casualmente, pousando os olhos em mim.
- Espero que tenham sido só coisas boas.
Franzi o sobrolho, eu nunca lhe tinha falado sobre ela... ou teria? Se bem que um tipo que tinha acesso ao conhecimento da minha morada, e-mail e número de telemóvel teria também acesso a outro tipo de informações correto?
Em vinte cinco anos nunca ninguém mexera comigo daquela maneira, nunca ninguém tomava conta de tantas emoções minhas como ele tomava. Ele fazia-me aquecer, fazia-me tremer, derretia com o toque raro dele e nada disto conhecido, mas com a sensação de que ele me era algo mais. Samuel e Vanessa continuaram com a conversa e eu mantive-me calada, pensei, imaginei até situações possíveis.
Eu e o meu irmão andámos nas mesmas escolas, ele tinha grupos mas não os apresentava como amigos, somente colegas. Passava os dias a estudar.
O Mano... o único que se metia à frente da mamã para me defender, o único que tomava as mesmas dores que eu... o único que me compreendia. Tentei observar algo em Samuel, um detalhe qualquer que me saltasse à vista, o nariz era óbvio que teria sido partido, marcas pequenas, poderia dizer-se mesmo, mínimas no rosto. Percorri todos aqueles ângulos inclusive o cabelo que se esgueirava para a testa.
Quando o empregado surgiu com os pratos coloquei os olhos na rua, na esplanada cheia à porta do café.
- Cass, estás tão calada. - puxou Vanessa.
Encolhi os ombros.
- Estou a apreciar a vista, só isso.

10/08/2017
22:37
Qui.

Diana Silva




segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Parca Negra (20º Episódio)

Emoções.
Não podia deixar escapar mais nenhuma, não iria deixar cair por terra todas as muralhas que eu própria erguera durante anos. Ele apareceu e as más memórias vieram com ele, não podia ser bom, não havia hipóteses nenhumas disso... ou haveria? O nó na garganta não se dissolvia, nem com o café a escaldar. Pousei as mãos nas pernas, onde eu sabia que ele não as veria, sentia o ligeiro tremer, o nervoso miudinho que se instalara no meu peito e nos meus pulsos.
Não consegui afastar o meu olhar do dele e ele por conseguinte também não o afastou de mim. Quanto tempo ficara eu sem resposta?
- Fala comigo Cassandra, por favor...
Engoli em seco e mesmo assim a voz não me assistiu, parecia fraca, rouca, cansada.
- O meu irmão morreu à dez anos, o que queres de mim agora?
Observei o peito dele a encher e a esvaziar, os seus lábios moveram-se para deixar escapar um curto suspiro.
- Só agora consegui encontrar-te, fiz uma promessa e não tenciono quebrá-la.
- Eu estava bem sozinha, não preciso de mais ninguém na minha vida!
O meu telemóvel tocou, só podia ser uma pessoa a ligar. Atendi e aproveitei para abandonar aquele olhar gelado.
- Bom dia Nes...
"- Cass, vou ter de voltar a casa, alguém forçou a entrada, acho que fui assaltada."
- Meu Deus! Vou contigo Vanessa, não vás sozinha!
"- Não preciso, vou sozinha... vou ligar para a policia e resolver isto."
- És doida só podes, não vais sozinha e ponto, se for preciso chego lá primeiro que tu! Estás onde?
"- A sair de tua casa agora e a entrar no carro, já te ligo."
- Mas que porra!
Aí ela já não me ouviu, já tinha desligado, olhei para ele e vi-o atento.
- Vamos ter de deixar a conversa para outra altura. - levantei-me da mesa e claro ele... neste caso o Samuel... tinha que se levantar também.
- Que se passa? - perguntou.
Não respondi, dirigi-me ao balcão e tirei a carteira, só que quando ainda estava a abri-la, ele já se tinha esticado e pago a conta.
- Não era preciso.
- Fui eu que convidei.
Nada mais disse, agradeci e dirigi-me para a saída, fui rápida a chegar e ele não se deixou ficar.
- Vais contar-me o que se passa?
- Porque raio achas que tenho de te dizer algo que seja, és o melhor amigo do meu irmão, mas não és meu amigo, nem te conheço, na verdade nunca conheci nenhum amigo dele!
- O não quereres lembrar-te é diferente de não me conheceres.
O carro da Vanessa já lá não estava. apressei-me a ir a casa deixar as coisas e voltar só com o essencial. E ele continuava lá, insistente.
- Algum problema?
Ele observou-me de alto a baixo, viu o meu nervosismo, quase parecia que estava a absorver o que eu sentia, mas, mantive-me firme, não ia fraquejar diante dele.
- Sim, mas agora vou levar-te onde quiseres e depois falamos.
Não tinha tempo para discussões Vanessa punha-se no local com uma rapidez brutal e eu tinha de ir ajudá-la, ele abriu as portas do carro e fez-me sinal para eu entrar enquanto se punha no lado do condutor. Que espectacular o dia estava a ser. O melhor amigo do meu irmão morto a perseguir-me, a minha melhor amiga a ser assaltada e eu a querer afastar-me mais uma vez de tudo e de todos. Que se dana-se o que eu sentia, a minha amiga primeiro.
Entrei no lugar do pendura e ele pôs o carro a trabalhar.
- Onde?
- Por agora podes seguir e virar à tua primeira esquerda por favor.
O silêncio tornou-se a que modos sufocante, eu estava a tornar-me sufocante, poderia até começar a sofrer de asma crónica caso isso existisse. Tentei organizar tudo na minha cabeça, em gavetas, diversos assuntos dispersos ocorreram-me e outras tantas perguntas como... o que raio fazia ele ontem à noite naquele lado dos bares?
- Estava a trabalhar. Estavas tão ultrapassada que não reparas-te no meu fato.
- Desculpa?
Ele olhou-me de lado sem retirar completamente os olhos da estrada, sorriu.
- Perguntas-te e eu respondi-te.
Virei a cabeça para as minhas mãos e senti a minha cara a ficar mais vermelha que um tomate. Eu? Ultrapassada?
- Trabalhas lá? - perguntei.
Acho que merecia saber, já agora.
- Sim, no bar ao lado do Blues, o Scorpion. Gostava de saber quem se lembraria de juntar um bar gótico ao lado de um bar que merecia pertencer aos anos sessenta.
Aí sorri, sorri mesmo... oh meu Deus... ele fizera-me sorrir. Tentei conter-me o máximo que pude e não puxei mais essa conversa.
- Vira aqui a seguir aos sinais à direita e depois à tua primeira esquerda.
- Sim senhora. - Comentou.
Franzi o sobrolho e mantive-me atenta à rua por onde passávamos. Estávamos quase lá e não conseguia deixar de sentir a ânsia de lhe tocar por mais loucura que fosse eu tinha vontade de tocar nele. Eu sonhara realmente com ele? Ele insistia em dizer-me que eu não me queria recordar... mas não quereria recordar-me do que? Podia bem gritar na minha cabeça, não me ressaltava o mínimo na minha memória... um deserto do oeste. Voltei a apontar o caminho e ele respeitou o silêncio, dois minutos depois estávamos à porta de Vanessa, uma casinha simples mas bonita, com um terraço bem arranjado, só ela lá vivia. Sem vizinhos chatos e barulhentos a morar no andar de cima. Vanessa estava a conversar com um agente enquanto que outro apontava, ela estava fula, com um rabo de cavalo desfeito e as roupas desalinhadas, mas bolas mesmo assim aquela mulher era sexy.
Saí do carro e apressada dirigi-me a ela.
- Nessie... então? - olhei para os agentes - Bom dia, sou a Cassandra.
Os agentes ergueram as sobrancelhas ao mesmo tempo... demasiado tempo juntos talvez...
- É a minha melhor amiga, eu tenho estado estes últimos dias com ela.
- Certo. - continuou o agente. - então disse-me que lhe ligaram em anónimo e a avisaram?
- Isso mesmo - ela saltitava de um pé para o outro, estava nervosa. - disseram-me que a porta estava aberta e que havia coisas no chão à vista espalhadas.
Olhei para o interior da casa, pus-me na entrada e aquilo era o caos, senti alguém atrás de mim, não precisei de me virar para saber que era Samuel.
- O senhor não pode estar aqui - avisou um deles.
- Ele está comigo - expliquei.
- Nesse caso, por favor não mexam em nada, precisamos de  recolher provas. - voltou a falar aquele que estava a fazer perguntas à minha amiga.
Pus um pé dentro de casa e não me atrevi a avançar mais, os móveis, os quadros, os vasos estilhaçados, quem é que poderia ser capaz de fazer aquilo? Não tinha sido só uma pessoa de certeza, não podia, era impossível.
- Faz ideia de quem ou do que poderiam querer de si ou dos seus pertences?
- Não sei, algum ex namorado ciumento talvez, não me levaram nada, verifiquei isso enquanto vos esperava, destruíram-me a casa toda.
Desta vez a voz que ouvi foi a do Samuel.
- Um ex ciumento? Parece que passou por aqui uma equipa de râguebi!
Virei-me no momento em que ela encolhia os ombros.
- Tive muitos namorados...
Ela olhou para o agente e o agente corou, por incrível que pareça... ninguém era imune aos seus encantos a não ser que jogasse na equipa adversária claro. Ele pigarreou e continuou o com o interrogatório, até uma outra equipa chegar, um homem e uma mulher, ele mais jovem que ela, quase pareciam mãe e filho e sem perder tempo puseram mãos ao trabalho.
- Senhora Vanessa, os nossos colegas Carmen e Gonçalo, são os que vão recolher alguma prova que nos possa ajudar neste caso.
- Prazer - cumprimentou ela.
Eles assentiram e pediram informações aos agentes, juntei-me a ela.
- Como te sentes?
- Estupidamente chateada, partiram-me tudo! Tenho de repor tudo e não sou propriamente rica! - suspirou.
Abracei-a e ela retribuiu.
- Sabes que podes ficar em minha casa o tempo que quiseres, até teres tudo em ordem.
- Obrigada Cass, és uma excelente amiga.
Sorri e dei-lhe um beijo na cara, ela franziu o sobrolho.
- Não costumas ser de tantos afectos.
- Eu sei. - respondi, até a mim isso me estranhava - acho que precisas de uns quantos amassos para melhorar a disposição.
Ela olhou-se com um sorriso de esguelha.
- Eu bem te respondo do que preciso. - e indicou com o queixo o agente com o qual falara.
- Nessie... tu não mudas!
Encolheu os ombros e foi ter com os agentes novamente, Samuel aproximou-se mais de mim e o seu braço roçou no meu provocando-me arrepios pela espinha acima, aproximou a boca do meu ouvido.
- Espero que um dia te aproximes tanto de mim como te aproximas da tua amiga...




07/08/2017
21:36
Seg.

Diana Silva


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O Parca Negra (19º Episódio)

Caramba!
Quanto tempo de sossego tivera eu? Somente o tempo de tomar um duche e de me vestir. Não me sentia capaz de passear numa passerela no entanto dei por mim preocupada com o que ele pensaria do meu estilo, pensei em talvez por um rimel ou passar um lápis nos olhos, aprofundar a cor deles, mas, claro que não o fiz, agarrei na minha mala e pé ante pé deixei uma mensagem num dos meus post-its de eleição, amarelos fluorescentes. Colei-o no frigorífico onde eu sabia que seria visto mais depressa.
Abri a porta e lá estava ele, encostado à parede mesmo em frente, um pé encostado na pintura recente que me deixou de sobrolho franzido. Fechei a porta devagar e virei-me totalmente para ele.
- Bom dia, melhor?
- O quê que a minha cara te diz?
Ele sorriu contidamente e não respondeu à minha questão retórica, em vez disso apontou para a saída.
- Aceitas uma boleia?
Olhei para o carro e achei que ao menos nisso eu teria poder de decisão, estava com o portátil na mão e não lhe iria facilitar a vida. Difícil era o meu nome do meio, apontei para o céu que naquela manhã estava limpo e soalheiro.
- Na verdade demoramos apenas dez minutos para lá, podemos ir a pé, preciso de fazer a fotossíntese, estar tanto tempo em casa fez-me perder o resto da melanina que tinha no corpo.
Ele conteve-se, mas conteve-se mesmo para não se rir... qual era a piada? Já não se podia ser irónica sem se passar por palhaça. Forcei-me a não sorrir.
- Queres dizer então clorofila?
Haaa, então era por aí que ele quereria enveredar caminho? Não respondi enquanto me punha a caminho, com ele atrás. Mudei a pasta de mão enquanto fazia sinal ao veiculo que parara para nos dar passagem, ato mais mecanizado que consciente mas mesmo assim a meu ver indispensável, quer dizer... eles poderiam sempre optar por nos atravessar com o carro por cima.
Ele não falou e eu agradeci, já era o suficiente ter que lidar com o calor da sua presença, ouvir a sua voz seria como mergulhar num poço sem fundo.
O que quereria ele dizer-me? O que seria tão importante assim? De onde o conhecia? A curiosidade tomava conta da minha cabeça, deixava-me sempre e praticamente à beira da loucura, de um precipício de emoções arrasadoras, ataques de ansiedade constantes quando o instinto me ditava que não era bom, que não era seguro, e no entanto esta ali com ele. Um homem que supostamente conhecia mas não sabia de onde.
Porra para isto tudo... chegamos cedo demais para eu me ambientar, cedo demais para o receio tumultuoso passar.
Sentei-me na mesa mais afastada que havia das poucas pessoas que lá se encontravam, o mais longe da porta, o espaço que me dava mais manobra de escapar discretamente caso fosse necessário. 
Ele sentou-se à minha frente e deixou os braços para baixo, as mãos debaixo da mesa e observámos-nos. O Empregado não demorou muito a alcançar-nos.
- Bom dia, bem vindos ao Luigi´s, qual é o vosso pedido?
- Bom dia, café duplo por favor.
Olhei para ele de lado à espera que ele falasse.
- Acho que me vou ficar pelo café curto e um copo de água.
O empregado apontou e dirigiu-se para o balcão. Clareei a garganta e em vez de esperar que saísse algo optei por ser eu a começar.
- Pronto, vamos ao assunto mais importante. Quem és tu e de onde me conheces?
Hoje ele não trazia o chapéu habitual, deixou o cabelo rebelde, escuro à solta, o ar despenteado punha-me a desejar poder passar os dedos para o pentear, mas devolvi o olhar ao dele e foquei-me no que ele diria.
- Isso não é o mais importante.
- Ai não? - tentei manter uma mente aberta - então e o que é mais importante para ti agora?
Os nossos cafés chegaram na altura em que ele ia a abrir a boca, o meu café duplo e o curto à sua frente. Agradecemos ambos e bebi o primeiro gole, amargo sem açúcar, simplesmente perfeito. Ele pôs açúcar no dele e era irónico porque eu achava-o um homem de cafés puros.
- Então? - ergui a sobrancelha.
- Estás melhor desde ontem à noite?
A serio? Ele estava mesmo a responder-me com outra questão? Tudo bem... poderia entrar nesse jogo também.
- Perfeita, como nova, óptima, pronta para outra.
- Um pouco rebuscada.
Revirei os olhos.
- Podes ir directo ao assunto? Nunca gostei de floreados.
Ele sorriu.
- Pois Cassandra mas eu ainda não estou pronto para passar para outros tópicos, gostava de conversar um pouco mais contigo.
- Julguei que viríamos aqui para esclarecer o facto de tu me andares a perseguir.
Ele riu-se, riu-se mesmo, fiquei com cara de parvinha a olhar para ele.
- Sempre tão séria, nunca aproveitas os momentos Cass?
Semicerrei os olhos, sem saber se deveria dar-lhe banho de café ou se lhe mandava um estalo, mas, optei pela terceira opção que era não fazer nada, ele viu que eu não estava a achar piada nenhuma à situação, alias, quem era aquele homem para me tratar pelo meu diminutivo? Agora que pensava nisso... ele ainda teria as minhas chaves. Automaticamente estendi a minha mão sobre a mesa.
- Julgo que tens algo que me pertence.
O sorriso dele não se foi embora, sem retirar os olhos dos meus, passou-me as chaves para a minha mão.
- Como é que as conseguis-te?
Reajustou-se na cadeira e pousou os cotovelos na mesa, o queixo nas mãos e a aproximação dele começou a aquecer-me. Hormonas estúpidas, corpo estúpido, necessidade estúpida.
- Digamos que a tua amiga pode ser um pouco distraída, e talvez as deixasse como um convite para ir a tua casa.
- Onde? - Insisti.
Ele suspirou
- Aqui mesmo, na hora do pequeno-almoço.
- Acho que vou exigir que ela ande com elas ao pescoço.
- Só me facilitarias ainda mais a tarefa.
Frustração... estava a ficar completamente frustrada, mas que raio! Quem era ele e que tipo de direito julgava ele ter?
- Quem - és - tu?
A expressão dele abateu-se um pouco, mas, o brilho não deixou de lá estar presente, encostou-se para trás mesmo nas costas da cadeira e pigarreou baixinho, o café dele já tinha sido bebido e o meu ainda ia a meio, provavelmente iria ficar lá, frio e morto.
- Queres mesmo saber?
- Estou à espera e impaciente.
Ele suspirou e revirou os olhos, mas, pôs o seu ar sério e muito sinceramente meteu-me um pouco de receio a resposta que ele poderia ter para me dar. Ele voltou a focar-se em mim e falou.
- Sou o melhor amigo do teu irmão, sou o Samuel.
Senti o coração a bater, baques sucessivos e rápidos a bombardear-me por dentro, o sangue a correr-me nas têmporas, a originar-me uma valente dor de cabeça. Por momentos a náusea da noite passada quase que ameaçou surgir... porquê que eu olhara para o meu café como algo frio e morto... algo como o meu irmão...

05/08/2017
01:21
Sáb.

Diana Silva